sexta-feira, 15 de junho de 2007

Avanços tecnológicos que merecem desconfiança.


Os avanços tecnológicos são muitos e maravilhosos nestes últimos tempos. As novas tecnologias nos oferecem belos e atraentes aparatos que fazem brilhar os olhos daqueles que se incluem entre os não excluídos da nova geração digital. Dos automóveis à cafeteira doméstica, da caneta esferográfica ao NoteBook, as novas tecnologias têm apresentado à sociedade magníficos instrumentos de mudanças do comportamento do indivíduo social. Essas mudanças comportamentais vão desde a maneira do indivíduo alimentar-se até como relacionar-se com os que estão envolvidos em seu cotidiano.
Os intelectuais, os governantes, os grandes poderosos da mídia, da indústria e do comércio entenderam que estas transformações sociais em torno das novas tecnologias abriram na história da humanidade possibilidades sem igual. Ao mesmo tempo que vendem seus produtos inovadores, fazem o controle estatístico, econômico e de comportamento de seus clientes. Isto é maravilhoso para as grandes indústrias. Saber exatamente quem comprou seus produtos, quando e quanto comprou e, por estatística, saber quando novamente seu cliente necessitará comprar. Tudo já é absolutamente possível e praticado em diversas esferas em nossos meios sociais.
Estou referindo-me a um pequeno, mas polêmico chip que está revolucionando os grandes centros metropolitanos de nosso planeta. A nova tecnologia é chama de RFID (“Rádio Frequency IDentifiction”) e é a grande estrela do momento. Este chip também é chamado de “etiquetas inteligentes” e as maiores redes de lojas do mundo já se preparam para colocá-las nos seus produtos exibidos em suas prateleiras, permitindo que seus estoques sejam controlados sem a operação direta de seus funcionários e que tenham também um exato controle de onde um determinado produto se encontra naquele determinado instante.
Estes chips ou etiquetas inteligentes são dotados de uma memória e são capazes também de efetuar transmissões de rádio. Com isto, Ao contrário dos atuais códigos de barras, as etiquetas podem ser lidas à distância, de forma totalmente automatizada, sem que o produto tenha que estar ao alcance da visão de um operador. Mas, mesmo antes destas etiquetas chegarem aos supermercados, elas já fazem parte do nosso dia a dia quando estão inseridas nas chaves de nossos automóveis, em sistemas de cobrança de estacionamentos e até seres humanos já implantaram chips RFID, como
Kevin Warwick, professor britânico que tem por projeto tornar-se um ciborgue. Algumas casas noturnas de Barcelona (Espanha) e Rotterdam (Holanda) também fazem implantes em seus clientes VIP, que utilizam o chip no lugar de comandas de consumo e sabe Deus aonde mais são utilizados este pequeno mas, inconvenientes aparelhos eletrônicos. Aliás, o bilhete único, utilizado como meio de pagamento no transporte público de São Paulo, já utiliza esta tecnologia. E como se não bastasse a grande polêmica em torno da tecnologia em torno da tecnologia RFID está na possibilidade e capacidade que os governos e companhias podem ter em rastrear informações pessoais.
Quando vemos tantos poderes, sejam comerciais ou governamentais, interessados na captura destas informações devemos ficar de alerta máxima, pois certamente seus interesses são escusos e prejudiciais a nós pobres mortais indivíduos sociais. Não é de estranhar uma entrevista dada à revista Fortune, por Rob Carter, CIO da Federal Express, quando indagado sobre a RFID, citou a definição de Bill Gates de "tecnologia dois e dez". Em outras palavras, nos dois primeiros anos, o entusiasmo reina seguido da decepção, até o dia em que, 10 anos depois, as pessoas percebem que a tecnologia tornou-se parte de sua vida diaria.
"A diferença é que pode ser que a RFID seja uma tecnologia três e 15", admitiu Carter, após notar alguns problemas que a FedEx vinha enfrentando com as etiquetas. E isto partiu de um homem cuja excelente reputação como CIO baseia-se na capacidade da empresa para rastrear caixas que nem mesmo lhe pertencem, por até 48 horas, de qualquer parte do mundo. Assim como com qualquer tecnologia, nós precisamos discernir seu valor para os desafios comerciais específicos e devemos estar cientes de suas vantagens e armadilhas, como o potencial de inundar-se de informações.
Desta forma estaremos mais uma vez sujeitos a um bombardeio de propagandas que vão falar das mil e uma vantagens deste novo produto de consumo que vai aos poucos e novamente, mudar nosso comportamento. Em breve, no posto de saúde mais próximo de sua casa você poderá ouvir o seguinte: “Arregace as mangas. Não vai doer nada. Em menos de dez segundos, um chip do tamanho de um grão de arroz será inoculado com uma seringa no seu ombro. Quase que imediatamente após a picada, seu nome completo, idade, batimentos cardíacos, temperatura corporal, a taxa de açúcar no sangue e a sua exata localização no espaço serão transmitidos para a estratosfera, onde um satélite encaminhará as informações para uma central de atendimento na Terra. A monitoração será total.”
Porém, se de um lado a indústria, comércio e governos estão se preparando para injetar em todos nós seu chip de potencial controle, existem já várias organizações que já em pé de guerra estão se mobilizando contra esta nova tecnologia.
É o caso do site
www.spychips.com que tem trabalhado arduamente contra este levante tecnológico que está ameaçando nossa liberdade e nosso direito constitucional de ir e vir sem ser-mos vigiados por interesses arbitrários.
A população americana já esta vivendo este novo momento de mudança. Questões de pessoas simples como a que segue já começam a surgir: “Pode o VeriChip (um dos fabricantes do Chip RFID) ser usado para seguir pessoas em movimentos?” A resposta dada pelos especialista que escrevem o site
www.antichips.com é a seguinte: “Sim, quando uma rede de leitores locais for instalada o VeriChip pode ser usado para monitorar um indivíduo enquanto se movimenta. Mesmo que o implante tenha uma escala de leitura relativamente curta, os leitores poderiam ser colocados em posições estratégicas para identificar pessoas enquanto passam perto. VeriChip já desenvolveu leitores da entrada de lojas especificamente com esta finalidade”.
Estamos na eminência de uma grande transformação de comportamento social. Estas mudanças podem refletir diretamente nos mais básicos conceitos democráticos vividos por esta geração da qual faço parte. As conquistas de liberdade e democracia que foram construídas até hoje com muita dor e o derramamento do sangue de nossos compatriotas poderão entrar nos arquivos do esquecimento histórico logo após uma injeção HighTec.
Apesar de não querer ser um pessimista da minha geração nem chamado de profeta do caos, quero terminar este texto com um poema de Carlos Drummond de Andrade que diz:, “Congresso Internacional do Medo”,
“Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.”

Altair Carneiro da Cunha