segunda-feira, 12 de maio de 2008

Desafio de uma nova metodologia pedagógica diante das tecnologias contemporâneas.

As tecnologias contemporâneas sempre foram motivos de preocupação e entusiasmo da sociedade em que vivemos e formamos, e onde determinados artefatos foram apresentados aos grupos sociais que há seu tempo fizeram suas manifestações contra ou a favor destes artefatos tecnológicos.

No entanto, na segunda metade do século XX, principalmente após a segunda guerra mundial, os equipamentos tecnológicos já utilizados durante o conflito começaram a serem inseridos na vida social das nações do pós guerra de uma maneira mais acessível às grandes empresas, aos ricos, às instituições governamentais e por último a uma pequena parcela da população. Isto aconteceu primeiro com os equipamentos tecnológicos que envolviam os meios de comunicação, e quando nos referimos aos meios de comunicação, queremos mencionar desde os automóveis até as imagens transmitidas e recebidas nos aparelhos de televisão domésticos, passando pelo cinema, pelo rádio e por sistemas computacionais já utilizados em algumas universidades como nos Estados Unidos e Europa.

De acordo com o site http://museu.boselli.com.br, as novidades do pós guerra foram se multiplicando a cada ano que passava. Se em 1875 o americano Frank Stephen Baldwin patenteou a calculadora com cilindros e pinos. Anos depois a idéia de uma máquina de calcular foi evoluindo passando pelo sueco Willgodt T. Odhner em 1878, por Felt que em 1889 inventou a primeira calculadora que também imprimia e chegando ao austríaco Curt Herzstark que preso no campo de concentração nazista de Buchenwald, desenvolveu os fundamentos daquela que seria considerada a melhor máquina calculadora já inventada em seu tempo e começou a produzi-la em série em 1947. A calculadora de Curt, que além de seu pequeno tamanho para sua época era também de um projeto mecânico magnífico, foi produzida até início da década de 70 quando não pode mais concorrer com as calculadoras eletrônicas.

Com todos estes aparatos surgindo ao nosso redor, a sociedade começou a ser diretamente influenciada por modelos e facilidades que nos foram apresentados dando motivo de status, poder e posição social. Estas mudanças começavam pelas classes mais afortunadas, mas logo chegava à classe média e induzia às classes menos favorecidas a obter acesso aos equipamentos eletro-eletrônicos que foram cada vez mais se disseminando no meio social.

Na década de 90 em Recife, Pernambuco, certo diretor comercial de uma rádio FM da cidade, se propôs a pagar cerca de cinco mil dólares por um aparelho de telefone celular da marca Motorola, além de pagar propina a um funcionário da então companhia de telefonia do estado, para obter o direito sobre uma linha de telefonia móvel celular. Claro que ele teve também de reforçar o cinto que amarrava suas calças, pois o aparelho, chamado até hoje de “tijolão”, com o seu peso demasiado fazia com que suas calças caíssem para o lado em que estava preso o telefone.

As mudanças sociais impostas pelas tecnologias contemporâneas apresentadas à sociedade todos os dias, dão uma noção do poder que estas tecnologias exercem sobre os elementos desta sociedade moderna que está pronta a assimilar e absorver toda e qualquer novidade que apareça e que esteja ao seu alcance. Diante desta facilidade de adaptação pela sociedade ao que é novo devemos estar preparados para refletir de que maneira vamos discursar acerca de tais mudanças sociais para que não ocorra de fazermos discursos que ao invés de levar o elemento social a refletir nas conseqüências desta fácil adaptação, vamos empurrá-los a uma condição de fazer o que é proibido pelo simples fato de ser proibido. Isto foi o que ocorreu entre os governos, entre os pais, entre os diretores de escolas e entre a juventude dos anos 60.

Com o surgimento da calculadora eletrônica, de baixo custo e esta acessível a uma grande parte da população, começou então um questionamento sobre a utilização deste equipamento tecnológico nas salas de aula das escolas. Este questionamento levou as escolas, os diretores, os professores e os pais de alunos a tomarem decisões que hoje, cerca de quinze anos depois, não mais se aplicam às necessidades e pensamentos pedagógicos da nova escola. Surge então uma pergunta - Foi outrora tomada a decisão correta quando da proibição de utilização da calculadora por alunos em sala de aula?

Ora, se hoje já é permitido usar uma calculadora nas aulas de matemática e outras disciplinas, tendo entendimento o sistema educacional vigente que esta utilização não prejudica o aprendizado do aluno, muito pelo, contrário facilita seu raciocínio e compreensão da matéria ensinada pelo professor com maior rapidez. Sendo assim a resposta a pergunta anterior já está respondida. Chegando até mesmo algumas escolas a permitir o uso da calculadora em dias de avaliação. Isto demonstra que houve uma mudança radical no comportamento não apenas de indivíduos sociais, mas também houve mudanças nas instituições que foram impulsionadas pelo desenvolvimento tecnológico e a assimilação pela sociedade ao resultado deste desenvolvimento. Estas mudanças fizeram com que os pensamentos, as decisões e conseqüentemente as atitudes de comportamentos fossem admitidas sem levar em conta os argumentos colocados por aqueles que decidiram contra estes aparatos tecnológicos no meio social, não percebendo que o indivíduo socializado já o havia inserido em sua própria maneira de viver e que uma vez inserido não mais voltaria atrás.

Este é apenas um exemplo do poder de mudar as atitudes, o comportamento e a maneira de pensar da sociedade que se tem atribuído às tecnologias contemporâneas nos últimos cinqüenta anos. São mudanças profundas que afetam o tempo, o espaço e a relação do indivíduo social em uma nova concepção de sociedade que hoje é chamada de sociedade globalizada. E é nesta sociedade globalizada que vamos encontrar o telefone móvel celular como um instrumento de mudança social mais eficaz em sua concepção e conceito de modernidade. É este instrumento uma das ferramentas mais poderosas que as tecnologias de informação e comunicação têm oferecido aos diversos seguimentos sociais passando pela educação, entretenimento, segurança entre outros, e reduzindo distâncias, espaço e tempo entre os indivíduos sociais os quais estão incluídos neste processo de modernização.

Enquanto o desenvolvimento tecnológico tem aplicado seus aparatos na saúde, na segurança pública, no entretenimento e na vida cotidiana de cada indivíduo desta sociedade a educação tem resistido em tirar proveito deste desenvolvimento e a utilizar as tecnologias contemporâneas como ferramenta no processo de ensino-apendizagem. Apesar de haver linhas de pensamentos resistentes a estas tecnologias há também aqueles que defendem uma educação aberta na utilização dos recursos das tecnologias de informação e na comunicação. Esta defesa está bem Livro Verde, Sociedade da Informação no Brasil, organizado por Tadao Takahashi, Brasília, Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000, que tem o seguinte texto:

A educação é o elemento-chave na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado. Parte considerável do desnível entre indivíduos, organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de oportunidades relativas ao desenvolvimento da capacidade de aprender e concretizar inovações. Por outro lado, educar em uma sociedade da informação significa muito mais que treinar as pessoas para o uso das tecnologias de informação e comunicação: trata-se de investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. Trata-se também de formar os indivíduos para “aprender a aprender”, de modo a serem capazes de lidar positivamente com a contínua e acelerada transformação da base tecnológica.(TAKAHASHI E OUTROS, 2000).

A partir desta concepção de “construção social” é possível buscar argumentos necessários tendo como objetivo adequar às tecnologias contemporâneas e usá-las como ferramenta eficaz no processo ensino-aprendizagem trazendo conhecimento e aprendizado eficaz as classes que podem ter acesso a estas tecnologias. E dentre as ferramentas tecnológicas que pode entrar no processo ensino-aprendizagem o uso do telefone celular na educação é o desafio que está posto à nossa frente.

Telefone celular na educação.

O telefone celular é um exemplo de tecnologia que tem chegado às classes menos favorecidas, mas ao mesmo tempo tem sido motivo de resistência no meio acadêmico pela sua utilização por alunos em seu ambiente escolar. Governos nas estâncias estaduais e municipais têm acionado seu legislativo para que estes criem leis que proíbam alunos a usarem o telefone celular nas dependências de suas escolas. Ora, neste momento social onde encontramos alunos de diversas escolas tendo em comum um aparelho celular, não é hora de procurar proibições e restrições, mas é hora sim, de que governos de forma inteligente tirem proveito deste ponto em comum entre as diferentes classes sociais e façam deste uma ferramenta “na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado”(TAKAHASHI E OUTROS, 2000).

As mesmas atitudes desenvolvidas pelos membros da sociedade durante o século IX e primeira parte do século XX contra o automóvel, contra a televisão, contra a calculadora e contra tantas outras máquinas que apareceram e foram apresentadas para a sociedade, estão sendo atribuídas hoje contra o telefone celular apenas por estarem nas mãos de alunos que estudam em uma ou outra escola, seja esta de nível fundamental, seja do nível médio ou ainda que sejam estas do nível superior. Ainda não aprendemos que não adianta ir de encontro a esta assimilação, a esta osmose que acontece entre os membros da sociedade e os artefatos tecnológicos que lhes são apresentado e possibilitado o seu acesso. Sabendo desta fácil aceitação pelo que é novo, então, ao invés de ir de encontro com argumentos contraditórios o melhor é que seja de forma inteligente criado artifícios que levem a sociedade a fazer o melhor uso possível destes artefatos de maneira tal que, tanto a sociedade quanto as instituições sejam beneficiadas.

A educação pode ser um lugar perfeito para se fazer a união de interesses entre a escola e seu sistema educacional e os que utilizam o telefone celular com a satisfação de ter algo que atenda suas expectativas, sejam estas de consumo, sejam de status ou simples prazer hi-tec, aos que relutantemente vão de encontro a este comportamento social.

Surge então um grande desafio para todos os grupos e junto a este desafio surge também a seguinte indagação: Pode o telefone celular ser um instrumento auxiliar no processo ensino-aprendizagem? Ao surgimento deste questionamento outra questão imediatamente nos é imposta: Como se daria a utilização deste instrumento tanto pelos docentes como pelos discentes no processo de ensino-aprendizagem?

No ímpeto e no anseio de responder estes questionamentos MONTEIRO(em site), aponta que:

As possibilidades que os aparelhos celulares suscitam nas práticas pedagógicas ainda é um grande desafio para os atores sociais do cotidiano escolar. Com o uso do aparelho celular, algumas práticas da cultura escolar se matem viva ou mais forte e outras passam a surgir e se incorporam às nossas identidades. Parece fazer ocorrer, como é o caso de proibição do uso desse aparelho nas escolas, a delimitação do que pode e do que não pode estar na escola. Pode, ainda, trazer a natureza do cuidado redobrado por parte dos educadores, a fim de delimitar claramente o sentido da ética que se pretende ensinar com o uso desse aparelho ou nas situações inusitadas que aparece no dia-dia das salas de aula.(MONTEIRO).

É a partir desta ótica que vamos tentar encontrar um meio inteligente de conciliar o aparato tecnológico que vem transformar o comportamento social do indivíduo e a sociedade como um todo onde seus grupos abusam ou rejeitam este aparato sem perceber o quanto ele pode ser instrumento de união e consenso trazendo assim ganho para todos os diversos interesses. Deste pensamento MONTEIRO faz uma análise das necessidades que permeiam a educação no Brasil e não esconde as dificuldades que vamos nos deparar ao investirmos nesta nova maneira de ensinar e nos chama a discutir sobre:

... as possibilidades produzidas no cotidiano das escolas que também vão modificando as relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva nas práticas pedagógicas que optamos para de algum modo ter sentido falar de ética na escola(MONTEIRO).

E é exatamente a ética que vai colocar em xeque todo o procedimento e argumento pedagógico tradicional que o sistema educacional ao longo dos séculos tem imposto aos seus educandos. Desta maneira será em nome da ética que teremos a oportunidade de ver novas possibilidades pedagógicas de ensino dentro de um contexto tecnológico contemporâneo manipulados com o objetivo de que os aparatos tecnológicos sirvam de instrumentos auxiliares no processo de ensino-aprendizagem. Monteiro ainda vai mais a fundo quando diz:

Acrescente-se a isso a necessidade de investir numa educação ambiental afinada com o contexto e necessidades locais e globais para tentarmos compreender e discutir nossas dificuldades em relação ao ensino ao conhecimento e a ética nas escolas.

Procurando, então, superar a análise da dimensão meramente técnica do uso de algumas mídias para instigar os educadores a desenvolver uma escuta, um sentir e um “ver” que ultrapasse ao que consideramos “normal e rotineiro”, necessitamos prestar atenção ao que os novos aparatos da mídia divulgam e transformam nas identidades culturais dentro e fora da escola.(MONTEIRO).

Na visão de MONTEIRO fica então patente o desafio para todos nós, educandos e educadores, quanto à necessidade de aperfeiçoarmos nosso entendimento, nossa compreensão e nossa capacidade de, como diz MONTEIRO, “prestar atenção ao que os novos aparatos da mídia divulgam e transformam nas identidades culturais dentro e fora da escola”. Quando falamos de identidade cultural temos pensar agora em tudo o que ocorrendo em nossa volta no mais distante que possa alcançar nossa visão, ou seja, temos que ter uma visão global do conjunto de decisões e direções que estão sendo tomadas pela humanidade em todos os assuntos referentes à ciência e a tecnologia.